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O MUNDO QUE PERTENÇO

Por Flavio Santos

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MANIFESTO

Vivemos em tempos onde nossos comportamentos são condicionados por diversos fatores de negatividade que nos levam a agir em um espaço de medo. Há a mídia que transmite notícias de tragédias o tempo todo. Fake news ocupam as redes sociais e é muito comum encontrarmos pessoas reclamando e compartilhando o que acontece de ruim em suas vidas. Construímos casas com muros como se fossem muralhas, nos trancamos não somente no literal, mas também em nossas conexões com as pessoas. E quando nos expomos, fazemos de maneira desconfiada evitando desconhecidos a qualquer custo. Mas o que acontece se o desconhecido for a sua única fonte de esperança?

Fiz uma viagem por 27 países durante aproximadamente dois anos. Logo no início, apenas 4 meses depois de sair do Brasil, aconteceu um episódio que mudou a minha percepção sobre a vida, sobre as pessoas e, principalmente, referente a mim mesmo. Fui assaltado e perdi todo o meu dinheiro. A partir daquele momento minhas condições mudaram completamente. Eu não tinha como voltar para casa, muito menos como me manter no padrão que estava. Por mais que possa parecer algo desesperador, foi devido a esse fato que eu me permiti ir além e me coloquei em uma situação de extrema vulnerabilidade. Fui para a estrada sem dinheiro e continuei viajando. Passei a pegar caronas, acampar ao lado de postos de gasolina e a dormir em casa de “estranhos”. Onde se poderia dizer que aconteceria o pior, o mal, o que vivenciei foi abundância de bondade! Conheci pessoas inexplicavelmente caridosas e encontrei solidariedade onde o medo poderia ter tomado conta.

Essas vivências fizeram com que eu percebesse que, na realidade, é da natureza do ser humano ser compassivo. Milhares de pessoas me ajudaram, mas não me ajudaram porque eu pedi e disse que precisava devido a minha situação de necessidade, me ajudaram porque nos conectamos e simplesmente fizeram por vontade própria. Um sorriso, um almoço ou um abraço, tudo de pessoas que nunca havia visto na vida. Vivi essa doação do ser humano em diferentes continentes e também no Brasil.

Por tanto, acredito fortemente no quão importante é compartilhar a bondade que vivemos diariamente, trazendo as pessoas para um despertar de consciência para que se desvinculem de suas amarras e se sintam que o mundo todo a pertencem, podendo a cada dia mais viver a confiança no ser humano. Pois me diga, não é realmente bom saber e poder acreditar que existem pessoas boas que ajudam, compartilham e buscam alternativas para tornar o mundo um lugar melhor? Pois bem, elas existem! Acontece que essas pessoas são anônimas, os seus atos do dia a dia não são conhecidos e ninguém nem imagina que elas estão mudando realidades por aí. É por isso que O Mundo que Pertenço existe, para compartilhar histórias e momentos onde as pessoas com um coração enorme e acolhedor estão criando um planeta Terra mais humano.

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  • Foto do escritorFlávio Santos

#floresnaestrada / O super-herói de caminhão!

Atualizado: 5 de mai. de 2020



Esse senhor da foto é um homem brasileiro de Uruguaiana, casado há mais de 20 anos e pai de dois filhos. Sua profissão de caminhoneiro é algo de família. Logo cedo seu pai ensinou como pilotar as máquinas e ele faz isso até os dias de hoje.

Conheci o Estevão em uma das BRs do Rio Grande do Sul logo depois de um dia extremamente cansativo ao sol na tentativa de chegar de Porto Alegre a Uruguaiana. Eu já havia desistido e pretendia passar a noite por ali mesmo onde eu estava, há mais de três horas parado no mesmo cruzamento e nenhum sinal de que alguém fosse parar para me levar. Por isso quando encontrei ele, eu estava no pátio do posto de gasolina, deitado ao lado das minhas mochilas e imaginando qual seria o melhor lugar para montar a barraca.


Só percebi que tinha sido notado quando voltando da conveniência ele fez sinal para que eu o acompanhasse. Sem entender muito o que acontecia, levantei e o cumprimentei: "Opa! Tudo bem?". Em resposta ele me olhou e perguntou: "Quer ir para Uruguaiana, menino?", apontando para a plaquinha largada no chão ao meu lado.



Estevão tem deficiência, seu braço direito é um pouco menor que o esquerdo e era esse braço que ele usava para carregar o mate. Uma pessoa de bondade infinita que era possível de identificar nos olhos e na maneira simples que falava.

_ Sim! Na realidade estou indo para Buenos Aires, mas chegando na fronteira já vai ser sucesso demais. Você pode me dar uma carona?


Perguntei.


Abriu as portas do seu caminhão e do seu coração. Me contou sobre sua vida, suas angústias e como era o relacionamento com a família porque passava a maior parte do tempo na estrada. Como só estudou até a terceira série, ser caminhoneiro foi a solução para ele ter condições de levar educação para seus filhos. Muitas vezes, na volta de suas viagens, ele me disse que fazia questão de levar algum presente para os meninos a fim de compensar a falta que fazia em casa.


_ Nunca foi fácil, mas sou consciente de que não tenho como mudar minha fonte de renda se quero dar um futuro aos que amo.


Perguntei qual era seu sonho, ele respondeu:


_ Ah, meu sonho? Rapaz, sabe que eu nunca pensei nisso, mas eu adoraria ir aos EUA para ver como é o trânsito lá, as ruas e os caminhões".


A viagem foi de uma tranquilidade sem fim e o mate foi nosso mais fiel companheiro.



Depois de algum tempo juntos e quando já estávamos chegando em Uruguaiana, ele disse que sua carga iria até Buenos Aieres e que se eu quisesse eu poderia ir com ele, mas teria que esperar a liberação da alfândega.


Como ele era de Uruguaiana, naquela noite ele iria para casa. Me perguntou onde eu dormiria e eu pedi para que ele me deixasse em algum posto de gasolina 24 horas que eu acamparia ao lado e esperaria ele voltar.


_ De jeito nenhum! tá doido? Estamos na fronteira, aqui é muito perigoso. Vamos fazer o seguinte, eu vou deixar meu caminhão dormindo em um estacionamento e te deixo com as chaves, você pode dormir aqui dentro. Olha aqui, tem uma cama bem confortável atrás do nosso banco. Amanhã cedo seguimos para a tirar a documentação e eu te deixo no posto de inspeção. Se você achar uma carona mais rápido você pega, se não quando ficar tudo pronto e o caminhão estiver liberado, eu volto e vamos juntos para a Argentina.



Acabei não conseguindo nenhuma outra carona e no fim do dia seguinte Estevão voltou para que continuássemos nossa viagem até a capital argentina.


Eu sentia que tinha feito um novo amigo de verdade. E me orgulhava da sua resiliência com a vida. Aquele era seu roteiro de viagem e fazia isso toda a semana. Trabalha incansavelmente do Brasil a Argentina, enfrentando filas, burocracia e nunca em nenhum momento estressado ou bravo pelas inevitáveis situações do dia a dia. Bem pelo contrário, com o sorriso no rosto, sempre indo 'de boa tchê' e oferecendo seu mate aos viajantes.


Via essa garra toda que ele transmitia como o super-poder de um super-herói. Não existem pessoas comuns, todos estamos vivendo a jornada humana e temos nossas guerras para travar. Como reagiamos a ela é o que nos torna diferentes. Estevão reagia com um sorriso de gentileza e cuidado com o próximo inspirando cada um que passava em sua vida. A paz em meio ao caos.


--


#floresnaestrada é uma sequência de contos de viagem focados na bondade vivida em situações de vulnerabilidade na estrada. Onde muitas vezes é esperado a maldade, deixe seu coração aberto e se entregue ao universo, o resultado sempre é amor.



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SOBRE MIM

Flávio tem como principais valores a espiritualidade, a liberdade e a gentileza. Acredita que gratidão e viver o presente são chaves para a felicidade. Sua mãe é sua família. Seu diploma é de Engenheiro, mas sua missão é mudar o mundo. Trabalha com projetos sociais na ASID Brasil, pós-graduado em Educação, Pobreza e Desigualdade Social pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduando em Empreendedorismo e Negócios Social pela FAE Business School. É instrutor voluntário de cursos de respiração pela Arte de Viver e no seu tempo livre faz trilhas, medita e acampa. Depois de uma viagem que mudou a sua vida, está escrevendo um livro e tem um projeto chamado “O Mundo que Pertenço”, que busca demonstrar quão bom o mundo é através de relatos de viagem.

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